Post by Tooken on Apr 5, 2007 11:30:37 GMT -5
O conhecido jornalista português entrevistou recentemente Ray Manzarek para o jornal Correio da Manhã. Em baixo fica o transcrito dessa entrevista.
In. Correio Da Manhã 24-03-2007
"O excêntrico Sanderson Hotel, onde Cristiano Ronaldo ‘arranjou’ um mediático sarilho sexual, foi o cenário de mais um encontro do porta-voz oficial e curador, do que se pode definir como Fundação Doors, Ray Manzarek, com a imprensa mundial. E desta vez por boas razões: uma nova e completa operação plástica à obra do grupo de Los Angeles. A boa disposição era evidente e o ‘acaso’ de esta ser a sexta conversa com o famoso teclista funcionava apenas como mais um detalhe da boa onda, que era mais do que audível nas imediações da suite 233, onde Manzarek me recebia com um sonoro, “Hello man”, e uma saudação aos encantos da língua portuguesa
– Em 2003, disse-me que o Mundo precisava mais da música dos Doors do que nunca. Parece que essa ‘profecia’ se concretizou. Será que uma das razões tem a ver com o facto de as vossas canções terem mais a ver com a condição humana do que com o universo pop rock em geral?
– Como no final dos anos 60, estamos a viver uma guerra, submetidos à vontade de uma administração incompetente e criminosa. Nenhum de nós poderia imaginar que 40 anos mais tarde o Mundo estaria à beira de um conflito religioso e de civilizações. Se, por um lado, o facto da nossa música servir de banda sonora da condição humana me enche de orgulho e satisfação, o facto de ainda ser ‘necessária’ é um caso de reflexão e alguma tristeza. Já não deveria ser assim. Por esta altura o Mundo deveria ter resolvido os seus problemas ambientais, a gasolina já deveria ter sido substituída por outro combustível qualquer e a fome erradicada.
– O regresso à estrada, sob as designações Doors XXI e Riders on The Storm, foi olhado com algum cinismo e criou outro tipo de problemas até legais. Apesar de tudo isso, o que mais o surpreendeu nestes últimos anos?
– Essencialmente a quantidade astronómica de jovens e raparigas bonitas que apareciam nos nossos concertos. Há a ‘Doors Music’, que ao contrário da percepção geral não é apenas “escura ou opaca”, ou mesmo um teatro intenso ao estilo Brecht ou Artaud. Não nego essa profundidade, mas em geral esquece--se o lado lúdico, sensual e ‘negro’ da nossa música. Ter alguém como Jim na pele de ‘actor principal’ ajudou a passar a mensagem, mas, como percebemos agora, as canções existem num plano autónomo e independente. Creio que as audiências actuais respondem dessa forma e perceberam que não se tratava de um circo indigno ou trágico cómico.
– Estiveram em Portugal por três vezes nos últimos anos, o que é um facto notável. Que memórias tem dos concertos nacionais?
– Portugal é o País do fado (tenta pronunciar a palavra correctamente na nossa língua) e essa vibração sente-se nos espectáculos. Existe uma energia muito especial que qualquer músico sente em palco. Este último com os Riders foi uma loucura: percebemos que a audiência estava em fogo, o que fez com que a performance se libertasse mais. A propósito, não sei se sabe, já temos um novo vocalista (Brett Scalions, dos Fuel) e estamos mais entusiasmados do que nunca.
– O livro de Ben Fong Torres, editado no princípio deste ano, é a ‘história definitiva’ dos Doors?
– Não existe uma história final. Nesse caso somos nós a falar de nós próprios. Claro que a primeira entrevista do ‘almirante’ Morrison e as revelações da senhora Courson acrescentam ângulos novos. E, francamente, não sei se Jim está vivo ou morto. Quem sabe? Se existisse alguém capaz de uma cena destas seria ele, o actor/poeta/agitador. Se está ou não nas Seychelles não faço ideia, mas sei que ‘um guião’ tão delirante como este criado à sua volta é a melhor homenagem que se poderia fazer.
"REEDIÇÕES FORAM COMO BRINQUEDOS"
– Creio que conhece o projecto ‘Love’ do produtor George Martin. Existe um paralelo entre esse trabalho e as novas edições dos vossos álbuns?
– O que fizemos com estes álbuns foi regressar ao passado para olhar o futuro. A relação com o disco dos Beatles a que faz referência tem a ver com a inclusão de algumas malhas, como por exemplo os solos do Robbie, ou os ‘breaks’ de bateria do John, e até alguns vocais do Jim, que não estavam nas edições anteriores. Para mim e para Bruce Botnick foi como jogar com uma série de brinquedos novos em folha. Por vezes, tínhamos de nos controlar para não nos perdermos de excitação.
"VÃO OUVIR OS DOORS COMO NUNCA"
– Para quem já comprou tudo o que foi editado e para o fã normal de música, o que diria para justificar a compra de mais uma colecção?
– Que vão ouvir os Doors como nunca os escutaram e que se trata de uma experiência sónica inesquecível que vai alterar ainda as percepções que possam ter da nossa música. Recordo que as anteriores remasterizações foram feitas em 1999 e que em anos digitais isso significa uma eternidade."
Álvaro Costa, em Londres
In. Correio Da Manhã 24-03-2007
"O excêntrico Sanderson Hotel, onde Cristiano Ronaldo ‘arranjou’ um mediático sarilho sexual, foi o cenário de mais um encontro do porta-voz oficial e curador, do que se pode definir como Fundação Doors, Ray Manzarek, com a imprensa mundial. E desta vez por boas razões: uma nova e completa operação plástica à obra do grupo de Los Angeles. A boa disposição era evidente e o ‘acaso’ de esta ser a sexta conversa com o famoso teclista funcionava apenas como mais um detalhe da boa onda, que era mais do que audível nas imediações da suite 233, onde Manzarek me recebia com um sonoro, “Hello man”, e uma saudação aos encantos da língua portuguesa
– Em 2003, disse-me que o Mundo precisava mais da música dos Doors do que nunca. Parece que essa ‘profecia’ se concretizou. Será que uma das razões tem a ver com o facto de as vossas canções terem mais a ver com a condição humana do que com o universo pop rock em geral?
– Como no final dos anos 60, estamos a viver uma guerra, submetidos à vontade de uma administração incompetente e criminosa. Nenhum de nós poderia imaginar que 40 anos mais tarde o Mundo estaria à beira de um conflito religioso e de civilizações. Se, por um lado, o facto da nossa música servir de banda sonora da condição humana me enche de orgulho e satisfação, o facto de ainda ser ‘necessária’ é um caso de reflexão e alguma tristeza. Já não deveria ser assim. Por esta altura o Mundo deveria ter resolvido os seus problemas ambientais, a gasolina já deveria ter sido substituída por outro combustível qualquer e a fome erradicada.
– O regresso à estrada, sob as designações Doors XXI e Riders on The Storm, foi olhado com algum cinismo e criou outro tipo de problemas até legais. Apesar de tudo isso, o que mais o surpreendeu nestes últimos anos?
– Essencialmente a quantidade astronómica de jovens e raparigas bonitas que apareciam nos nossos concertos. Há a ‘Doors Music’, que ao contrário da percepção geral não é apenas “escura ou opaca”, ou mesmo um teatro intenso ao estilo Brecht ou Artaud. Não nego essa profundidade, mas em geral esquece--se o lado lúdico, sensual e ‘negro’ da nossa música. Ter alguém como Jim na pele de ‘actor principal’ ajudou a passar a mensagem, mas, como percebemos agora, as canções existem num plano autónomo e independente. Creio que as audiências actuais respondem dessa forma e perceberam que não se tratava de um circo indigno ou trágico cómico.
– Estiveram em Portugal por três vezes nos últimos anos, o que é um facto notável. Que memórias tem dos concertos nacionais?
– Portugal é o País do fado (tenta pronunciar a palavra correctamente na nossa língua) e essa vibração sente-se nos espectáculos. Existe uma energia muito especial que qualquer músico sente em palco. Este último com os Riders foi uma loucura: percebemos que a audiência estava em fogo, o que fez com que a performance se libertasse mais. A propósito, não sei se sabe, já temos um novo vocalista (Brett Scalions, dos Fuel) e estamos mais entusiasmados do que nunca.
– O livro de Ben Fong Torres, editado no princípio deste ano, é a ‘história definitiva’ dos Doors?
– Não existe uma história final. Nesse caso somos nós a falar de nós próprios. Claro que a primeira entrevista do ‘almirante’ Morrison e as revelações da senhora Courson acrescentam ângulos novos. E, francamente, não sei se Jim está vivo ou morto. Quem sabe? Se existisse alguém capaz de uma cena destas seria ele, o actor/poeta/agitador. Se está ou não nas Seychelles não faço ideia, mas sei que ‘um guião’ tão delirante como este criado à sua volta é a melhor homenagem que se poderia fazer.
"REEDIÇÕES FORAM COMO BRINQUEDOS"
– Creio que conhece o projecto ‘Love’ do produtor George Martin. Existe um paralelo entre esse trabalho e as novas edições dos vossos álbuns?
– O que fizemos com estes álbuns foi regressar ao passado para olhar o futuro. A relação com o disco dos Beatles a que faz referência tem a ver com a inclusão de algumas malhas, como por exemplo os solos do Robbie, ou os ‘breaks’ de bateria do John, e até alguns vocais do Jim, que não estavam nas edições anteriores. Para mim e para Bruce Botnick foi como jogar com uma série de brinquedos novos em folha. Por vezes, tínhamos de nos controlar para não nos perdermos de excitação.
"VÃO OUVIR OS DOORS COMO NUNCA"
– Para quem já comprou tudo o que foi editado e para o fã normal de música, o que diria para justificar a compra de mais uma colecção?
– Que vão ouvir os Doors como nunca os escutaram e que se trata de uma experiência sónica inesquecível que vai alterar ainda as percepções que possam ter da nossa música. Recordo que as anteriores remasterizações foram feitas em 1999 e que em anos digitais isso significa uma eternidade."
Álvaro Costa, em Londres